Agora vivendo numa das maiores cidades do mundo, o que nunca imaginei (como outras das muitas coisas que me acontecem na vida), lembro muito minha infância jogando com meus irmãos, brincado com eles, muitas vezes com minha mãe que é a criadora de mundos. Foi ela que com sua doçura criou prá todos nós um lugar, um mundo dentro do deserto e da pobreza que vivemos na década de oitenta. No meio de apagoes, toques de recolher, queima de ônibus, fila prá comprar pão, querosene, açúcar, leite, etc.
Morávamos na Villa El Salvador , no bairro de Pachacamac , um verdadeiro arenal. Nosso vizinho mais perto morava distante, cerca de quinhentos metros de nossa casa. Visitar a nossa querida vovó, era toda uma viagem interprovincial , pois na época só havia dois ônibus que chegavam ao centro de Lima e depois pegávamos outro ônibus até nosso destino. A viagem podia durar duas horas ou mais.
Quando ficávamos em casa, depois da escola, jogávamos muito, aqueles jogos que agora não tem mais, chapadas, escondidas, mata gente, São Miguel e outros jogos. Minha mãe tão linda nos revisava as liçoes da escola, o que também fazíamos entre os quatro. Mas nessa época meu irmão mais novinho ainda não ia a escola. Todos em torno de uma vela na mesa da sala de jantar, resolvendo as tarefas antes do meu pai chegar do trabalho.
Minha mãe ou “Mamama” como agora eu a chamo, nos criou um mundo onde criar nosso próprio jogos y brinquedos era uma aventura emocionante .
Um mundo só de sorriso na qual não tem tempo prá chorar;
Um mundo só prá ela e seus quatro filhos onde o dinheiro não existe exceto no jogo Banco Imobiliário;
Um mundo onde desenhar ou fazer um conto era um jogo de aventura tão lindo e emocionante ;
Um mundo onde escutávamos os discos de meu pai e dançávamos com eles;
Um mundo onde apreciávamos muito uma Coca-Cola aos finais de semana;
Um mundo onde o mundo real não existe;
Um mundo onde minha irma não pensaria em sair e muito menos viver na Panamá;
Um mundo onde meu irmão mais velho não pensaria em viver nos Estados Unidos;
Um mundo onde meu irmão mais novo não cresceria tão rápido e se casaria tão jovem;
Um mundo onde eu não pensaria em morar a 3439 km de distância e muito menos falar outra língua.
Este mundo criado por minha mãe foi tão maravilhoso e agora só fica nas lembranças; este mundo que não voltará mais, mas vale a pena lembrar quando escutamos na radio uma daquelas músicas que gostávamos de dançar. Nos transporta a esse mundo por um instante.
Muito Obrigado por existir MAMITA LINDA!!!!!!!!!
